Arquivo da categoria: poemas para guardar

para registrar e gravar no tempo

Adiós ríos, adiós fontes
adiós, regatos pequenos;
adiós, vista dos meus ollos,
non sei cándo nos veremos.

Miña terra, miña terra,
terra donde m’eu criei,
hortiña que quero tanto,
figueiriñas que prantei.

Prados, ríos, arboredas,
pinares que move o vento,
paxariños piadores,
casiña d’o meu contento.

Muiño dos castañares,
noites craras do luar,
campaniñas timbradoiras
da igrexiña do lugar.

Amoriñas das silveiras
que eu lle daba ó meu amor,
camiñiños antre o millo,
¡adiós para sempre adiós!

¡Adiós, gloria! ¡Adiós, contento!
¡Deixo a casa onde nacín,
deixo a aldea que conoso,
por un mundo que non vin!

Deixo amigos por extraños,
deixo a veiga polo mar;
deixo, en fin, canto ben quero…
¡quén puidera non deixar!

[…]

Adiós, adiós, que me vou,
herbiñas do camposanto,
donde meu pai se enterrou,
herbiñas que biquei tanto,
terriña que nos criou.

[…]

Xa se oien lonxe, moi lonxe,
as campanas do pomar;
para min, ¡ai!, coitadiño,
nunca máis han de tocar.

[…]

¡Adiós tamén, queridiña…
Adiós por sempre quizáis!…
Dígoche este adiós chorando
desde a beiriña do mar.

Non me olvides, queridiña,
si morro de soidás…
tantas légoas mar adentro…
¡Miña casiña!, ¡meu lar!

Adiós ríos, adiós fontes [1863], de Rosalía de Castro.

Misturamos tudo
é fato
Aproveitamos o dia de Pentecostes pra pendurar os ovos de Páscoa de São Bartolomeu na árvore de Natal do Catorze de Julho
Teve um mau efeito
Os ovos estavam vermelhos demais
A pomba se safou
Misturamos tudo
é fato
O dia e o ano o desejo e o remorso e o leite e o café
No mês de Maria que parecia o mais belo colocamos a Sexta-feira Treze e o Grande Domingo dos Camelos o dia da morte de Luís XVI o Ano terrível a Hora do amante e cinco minutos da pausa pro almoço.
E somamos sem rima nem razão nem ruína nem mansão sem fábrica e sem prisão a grande semana de quarenta horas e aquela das quatro quintas-feiras
E um minuto de baderna
por favor
Perdemos nosso tempo
é fato
Um minuto de surto de alegria de canções pra rir e ruídos e longas noites pra dormirmos no inverno com as horas suplementares pra sonharmos que é verão e longos dias pra fazermos amor e rios pra nos banhar e grandes sóis pra nos secarem
Perdemos nosso tempo
é fato
mas era um mau tempo
Avançamos o pêndulo
Arrancamos as folhas mortas do calendário
Mas não tocamos as campainhas
é fato
Só o que fizemos foi escorregar pelo corrimão das escadas
Falamos de jardins suspensos
vocês já vinham em fortalezas voadoras desbastar a cidade mais rápido do que um pequeno barbeiro desbasta a própria vila num domingo de manhã
Ruínas em vinte e quatro horas
o próprio tintureiro morre
Como você quer que se fique de luto

Confissão pública (Loteria crítica) [1955], de Jacques Prévert.
Tradução de Adriano Scandolara, do ótimo e mais que recomendado blog escamandro.

O Sol já se escondeu…
Precisamente quando,
feliz,
eu desatei a cantar.
(Só por feliz eu cantei.)

Agora quero acabar,
que já me dói a garganta,
mas vou ainda cantando,
temendo
dar por mim de novo triste
assim que esteja calado.
(…Como se a minha Alegria
nascesse de eu ter cantado.)

O Sol já se escondeu (1957), de Sebastião da Gama